No dia 30 de agosto de 2003 fui ordenado pastor pelo presbitério de Montes Claros em Minas Gerais. Não posso negar que foi um momento de grande emoção, sobretudo porque aquele tinha sido um ano com alguns dos momentos mais difíceis na minha vida até então, e para completar boa parte de minha família resolveu sair de Recife (a quase 2000 km de distancia para participar comigo e minha esposa daquele momento), foi uma grande festa realmente! Eu já liderava uma pequena comunidade que se reunia no centro da cidade, e já possuía as responsabilidades que o "mitiê" eclesiástico exigia, mais estranhamente só depois daquele dia fui reconhecido por minha vocação, foi como se alguém tivesse colocado nas mangas da minha camisa uma estrela, uma patente. De um dia pro outro, os que me chamavam simplesmente de Pedro, começaram a me identificar como o Rev. Pedro, diziam: “Agora o "senhor" é pastor e temos que respeitar como tal! Notei que rapidamente o trato mudou, o olhares mudaram e a expectativa também mudou, eu agora era o reverendo, minha palavra tinha mais peso e minha oração era a oração que era ouvida pelo Senhor. Quando e aonde eu chegava tinha que dar uma "palavra”, e meu trabalho era avaliado pelas pessoas-cabeças-de-gado... ou melhor, cabeças-de-ovelhas que preenchiam o espaço-templo! Lembro que muitas vezes queria simplesmente ser eu mesmo, sentar, rir, não dizer nada, não ir, ou ir, chorar, ficar em casa sábado a noite com minha esposa, refletir ou simplesmente deixar minha mente ociosa vendo um jogo! Como é tênue a linha que divide a vocação do oficio religioso! Como é tentador se achar o "cara" e perder o coração, cedendo às propostas fascinantes da religião, e tendo muitas vezes a chance de construir seu nome! Sei que nesse caminho sou novato, e aqui deixo claro que nenhuma bandeira levanto, bem como nenhuma defesa faço, simplesmente compartilho meu coração e entendimento quanto a minha vocação, e mesmo sendo um novato nesse caminho, hoje sei que vocação é uma coisa e oficio é outra completamente diferente. Hoje sei que a vocação que vem de Deus, é o caminhos dos " sem-nome" , dos que já morreram para os holofotes, dois que não precisam dizer o que fazem, porque o que fazem diante Dele e para Ele, dos que não se importam como seu nome e nem com sua reputação, porque para estes o Nome a ser exaltado é o NOME que está acima de todos os nomes, a saber JESUS CRISTO! Hoje sei que a vocação que vem de Deus, é caminho da consciência da incapacidade própria, é a certeza da inabilidade pessoal, é o encontro com as próprias debilidades, e tudo isso sendo amorosamente confrontado todos os dias com a GRAÇA BENDITA de Deus;Hoje sei que o caminho da vocação é o caminho dos que preferem servir a ser servido, dos que preferem dar, ao invés de receber! É também o caminho dos que se misturam, como o fermento que se mistura a massa, como o sal que se mistura a comida, ninguém ver, mas está ali, não se ouvi ruído algum, mas esta lá, mudando a estrutura da massa, dando sabor a comida...assim é e assim deve ser... e tudo isso acontece fora dos espaços, tudo isso acontece na vida e na caminhada! Senhor ajuda-me a viver minha vocação com simplicidade, fé e amando sempre, amando sempre e amando sempre...
Pr. Pedro Albuquerque
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